Quase um quarto do território brasileiro já foi queimado nos últimos 40 anos, revela estudo

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Quase um quarto do território brasileiro já foi queimado pelo menos uma vez nas últimas quatro décadas. Desta área, mais de 68% era de vegetação nativa, principalmente na Amazônia e no Cerrado. A nova Coleção do MapBiomas Fogo, divulgada nesta terça-feira (18) pela iniciativa, também revela que, proporcionalmente, o Pantanal – atualmente consumido pelas chamas – é o bioma mais atingido. O relatório inclui dados de 1985 a 2023 sobre as queimadas em todo o Brasil, apoiados por imagens de satélite e inteligência artificial. No total, 199,1 milhões de hectares foram queimados no país, ou 23% do território nacional, afirma o estudo. O Mapbiomas reúne acadêmicos, organizações não-governamentais e empresas de tecnologia. Os três Estados brasileiros com maior avanço da agropecuária no período, Mato Grosso, Pará e Maranhão, concentram 46% dos registros históricos de fogo. Além disso, 65% da área afetada no país foi queimada mais de uma vez em 39 anos, sendo o Cerrado o bioma com a maior área queimada recorrente."As atividades humanas tem mudado o regime do fogo, a forma como ele acontece. O fogo não está mais acontecendo naturalmente na época em que deveria acontecer, nem na frequência em que deveria”, explica Ane Alencar, diretora de Ciência do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) e coordenadora do Mapbiomas Fogo."Em um cenário em que as mudanças climáticas têm impactado os eventos climáticos extremos, como El Niño, em sua intensidade e frequência, isso vai gerar condições em que os incêndios aumentem. Para que os incêndios não fiquem cada vez maiores, a gente precisa reduzir o uso do fogo nas práticas agropecuárias, seja para o desmatamento como para o manejo da terra”, afirma.Proporcionalmente, Pantanal é o mais queimadoEmbora o Cerrado (44% do total queimado no país) e a Amazônia (19,6%) sejam os biomas mais atingidos, o Pantanal é o que teve maior área afetada em relação ao seu tamanho total: 9 milhões de hectares, ou 59,2% do bioma, já viraram fumaça pelo menos uma vez.O relatório é divulgado no momento em que as chamas consomem a região, em meio a uma seca prolongada, que facilita a ocorrência e a propagação do fogo, em um ritmo preocupante. O rio Paraguai encontra-se nos menores níveis históricos."O Pantanal vem secando ao longo das últimas décadas. O que a gente tem visto na série histórica, nos últimos 38 anos, é que a seca tem ficado cada vez mais evidente. O Pantanal já perdeu mais de 29% da sua superfície de água”, aponta biólogo Gustavo Figueiroa, diretor de comunicação da SOS Pantanal.A temporada de queimadas este ano chegou dois meses mais cedo do que o esperado, durante a estação seca (de junho a outubro). O período que vem pela frente tem tudo para ser dramático: o Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais) aponta que todo o bioma está em estado de alerta e há “alta probabilidade de fogo” principalmente no Mato Grosso do Sul.Panorama atual é pior do que recordes de 2020Na comparação com as piores queimadas da história no Pantanal, em 2020, este ano já registra uma área 54% maior de fogo, mostrou um levantamento por satélite da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). A SOS Pantanal alerta que as condições estão similares às de quatro anos atrás, e lamenta a falta de investimentos na prevenção contra os incêndios desde então.Figueiroa esteve há poucos dias ajudando a combater o fogo na região: "O acesso é muito difícil, a logística é complicada para chegar. Vamos precisar do apoio de aeronaves, de helicópteros para transportar as equipes até o local de combate e aviões para soltar água na linha do fogo”, indica.“Eu estou bem preocupado porque é possível que a gente reviva este ano o inferno que foi 2020. A gente imaginou que o poder público, em todas as suas instâncias, iria aprender com isso, mas o que a gente viu é que esse aprendizado está muito devagar perto do avanço da seca, dos incêndios e das mudanças climáticas como um todo", observa o pesquisador.Em todo o país, o número de queimadas nos primeiros quatros meses do ano, até 1° de maio, é o maior da história das medições do Inpe (Instituo Nacional de Pesquisas Espaciais), iniciadas em 1998. A chegada do fenômeno La Niña, esperada para o segundo semestre, poderá atenuar este cenário, ao trazer chuvas para o norte do país.

Quase um quarto do território brasileiro já foi queimado nos últimos 40 anos, revela estudo

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O que a temporada ‘extraordinária' de furacões no Atlântico em 2024 alerta sobre o clima
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